Aécio Neves: "Dilma é refém de um governo de cooptação"
Principal nome do
PSDB para disputar a Presidência, o senador diz que a oposição vai chegar forte
em 2014 porque o modelo do PT vai se exaurir
GUILHERME EVELIN- Revista
Época
Em 2010, Aécio Neves tinha altos índices de popularidade depois de
dois mandatos como governador de Minas Gerais e poderia postular a candidatura à
Presidência da República pelo PSDB. Mas não quis entrar numa disputa interna e
cedeu a vez ao então governador de São Paulo, José Serra. Serra ainda parece
alimentar a pretensão de voltar a concorrer ao Planalto. Mas agora quem tem
maioria no partido é Aécio. Entronizou aliados nos principais postos da direção
partidária e comanda a reorganização do PSDB. Depois de um início de mandato
relativamente discreto no Congresso, onde o governo conta com maioria
avassaladora, Aécio, aos poucos, tem aumentado o tom das críticas ao governo
Dilma. Na semana passada, ele deu esta entrevista a ÉPOCA.
ÉPOCA - O
senhor disse que está pronto para ser candidato à Presidência da República em
2014 em disputa com a presidente Dilma Rousseff ou o ex-presidente Lula. Como
tornar viável uma candidatura de oposição a um governo bem
avaliado?
Aécio Neves - O PSDB passou por uma reorganização em sua
direção e agora inicia um processo de debates com a sociedade. Realizou um
grande seminário, com a participação de figuras que não são do partido, e deu a
largada na discussão de temas que permitirão um antagonismo com o governo. Não
me surpreende a popularidade da presidente Dilma. É natural, no primeiro ano de
governo, que o protagonismo da cena política seja da presidente. Ela tem boas
intenções. Mas é refém do que lá atrás se chamou de coalizão, mas não passa de
um governo de cooptação. O governo do PT abdicou de um projeto de país para se
dedicar a ficar no poder. O tempo está passando e não há nenhuma inovação em
nenhuma área. A oposição chegará altamente competitiva em 2014, porque esse
modelo de go-vernar pela cooptação, estabelecido pelo PT, vai se
exaurir.
ÉPOCA - Um problema da oposição é que a base do governo reúne 17
partidos. Se for candidato, que partidos o senhor pretende atrair?
Aécio
- Não sou candidato, não ajo como candidato. Sou lembrado por alguns
companheiros do partido, mas falar em nomes agora seria um equívoco estratégico
enorme. O PSDB precisa antes voltar a dizer ao país o que pensamos. No momento
adequado, vamos ter novos aliados, porque o modelo do PT vai chegar ao final de
12 anos sem enfrentar nenhum grande contencioso do país. Eles tocaram a coisa
conforme a maré permitia, e isso vai gerar cansaço. O mandato da presidente
Dilma não vai ser nenhuma grande tragédia, mas ela é responsável pela formação
de seu governo, pela incapacidade de tomar iniciativas, pela falência da
infraestrutura no Brasil, pela má qualidade da saúde. Esse é um governo reativo,
sem a dimensão necessária para produzir um futuro diferente para o Brasil - e
que passou o ano reagindo às crises que surgiram. O malfeito só é malfeito
quando vira escândalo.
ÉPOCA - Em que o PSDB pode tentar se distinguir do
PT?
Aécio - Estamos buscando identificar temas que criarão contraponto ao
imobilismo do PT. Vamos ao principal. Fala-se muito do combate à pobreza como a
grande marca do governo. Mas não se combate a pobreza só com um programa de
distribuição de renda. O governo se contenta em administrar a pobreza em vez de
fazer a transição real dos pobres para uma situação de melhor bem-estar. Isso
ocorre porque o governo não enfrenta a questão de qualificação da educação como
deveria.
ÉPOCA - O senhor disse que o governo administra a pobreza. Isso
é uma crítica ao programa Bolsa Família?
Aécio - O Bolsa Família é essencial
e está incorporado à realidade econômica e social do país. Mas você não vai
tirar ninguém da pobreza dando o Bolsa Família. Quando o governo comemora não
sei quantos milhões de pessoas no Bolsa Família, isso não deveria ser motivo de
comemoração. A comemoração deveria ocorrer se o governo dissesse: neste ano nós
vamos ter 2 milhões a menos de famílias necessitadas de receber o Bolsa Família,
porque o governo deu a elas qualificação, acesso a emprego de qualidade e meios
de construir seu destino.
ÉPOCA - O PSDB carrega a pecha de ser um
partido que perdeu a conexão com o povo. Esse seminário recente teve a
participação de vários economistas ligados ao mercado financeiro, mas poucos
nomes da área social com o mesmo peso. Não é uma contradição com a intenção de
renovar o partido?
Aécio - O seminário foi muito equilibrado. E a presença
desses economistas foi proposital. Procuramos resgatar algumas figuras que
tiveram papel essencial nas reais transformações do Brasil. O maior programa de
transferência de renda que nossa geração assistiu não é o Bolsa Família, mas o
Plano Real, que tirou dezenas de milhões de famílias do flagelo da
inflação.
ÉPOCA - Mas como resolver essa questão da conexão com os
setores mais pobres da população?
Aécio - Administramos metade da população
do país, e essa questão não existe nos Estados onde vencemos as eleições. Em
Minas Gerais, ganhamos em todas as regiões mais pobres porque fizemos inclusão,
melhoramos a qualidade da saúde, investimos em infraestrutura e reduzimos a
criminalidade. Mostrar os bons exemplos de nossas ações é uma forma de mostrar
que não somos populistas, mas administramos bem e com resultados sociais
vigorosos.
ÉPOCA - O PSDB tem alianças com o PSB em vários Estados,
inclusive Minas Gerais. O PSB pode ser parceiro dos tucanos em 2014?
Aécio -
Tenho uma relação pessoal antiga com o Eduardo (Campos, governador de Pernambuco
e líder nacional do PSB). Em determinado momento, ele trouxe um convite do avô
dele, Miguel Arraes, para que eu me filiasse e fosse candidato pelo PSB.
Acredito que possa ocorrer um encontro natural. Hoje, o PSB tem compromisso com
o governo, mas haverá nos Estados uma movimentação natural para que setores do
PSB e de outros partidos estejam próximos a nós. Chegaremos a 2014 robustos para
disputar as eleições, até porque nas eleições municipais faremos muitas alianças
com partidos que estão na base de apoio da presidente Dilma. E muitas dessas
alianças serão contra candidatos do PT.
ÉPOCA - Uma pessoa com quem o senhor
tinha boas relações no PSB era o (ex-ministro) Ciro Gomes. Mas ele recentemente
o atacou numa entrevista dizendo que o senhor lê pouco e que isso é um problema
para suas pretensões políticas.
Aécio - Tenho grande carinho pelo Ciro, mas
confesso que não tive oportunidade de ler essa entrevista dele (risos). Não vejo
isso como um ataque a mim.
ÉPOCA - O PSDB se articula para disputar as
eleições municipais, mas na maior cidade do país, São Paulo, o partido não tem
candidato forte. Isso não é um problema?
Aécio - Confio na liderança do
governador Geraldo Alckmin, do ex-governador José Serra, que seria líder nas
pesquisas hoje se fosse candidato, do senador Aloysio Nunes Ferreira. O PSDB
encontrará uma equação positiva, com chances de vencer as eleições. Acho muito
importante que o PSDB tenha candidatura em São Paulo.
Votei no congresso pelo
endurecimento da lei seca e já a aplicamos em minas. meu episódio com o
bafômetro já foi explicado "
ÉPOCA - O ex-governador José Serra quer ser
candidato mais uma vez à Presidência em 2014. Como evitar a divisão
interna?
Aécio - O Serra tem as qualidades para postular qualquer
candidatura. Na hora certa, o partido decidirá. Política é a arte de
ad-ministrar o tempo. Você não pode antecipar excessivamente nem perder o tempo
de determinadas decisões. Acho que 2013 será o momento adequado de definirmos o
candidato, e sou um defensor das prévias. O candidato não será aquele que mais
quer ser. Será quem tem melhores condições de vitória e de
alianças.
ÉPOCA - Que erros o PSDB cometeu nas últimas campanhas
presidenciais e deve evitar em 2014?
Aécio - Abrir mão de defender nosso
legado foi o maior dos equívocos do PSDB. Não teria existido o governo do
presidente Lula se não tivesse existido o governo do presidente Itamar e do
presidente Fernando Henrique, com a estabilidade econômica, a modernização da
economia, a construção dos pressupostos de metas da inflação, superavit
primário, câmbio flutuante. Essa foi a bendita herança para o governo do PT. E
abdicamos de disputar isso. Quando eu era presidente da Câmara, o PT lutou
contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. E hoje, mais de 60% da população, numa
pesquisa que nós mesmos fizemos, acha que quem fez a Lei de Responsabilidade
Fiscal foi o PT.
ÉPOCA - Como o senhor acha que o PSDB deve tratar o ex-
presidente Fernando Henrique numa próxima campanha presidencial?
Aécio - No
que depender de mim, com papel de destaque. O PSDB subestimou a capacidade de
influência do presidente Fernando Henrique. Não falo de capacidade eleitoral,
mas de debater os grandes temas com a autoridade de quem é uma das figuras
brasileiras mais respeitadas.
ÉPOCA - Ele recentemente tem-se destacado
por defender a legalização do consumo da maconha. O senhor concorda com
isso?
Aécio - Tive a oportunidade de dizer a ele que discordo. É bom que o
tema esteja em discussão, sem preconceitos. Mas não conheço nenhuma experiência
no mundo em que isso tenha ocorrido e tenha significado redução no consumo da
droga.
ÉPOCA - As últimas eleições ficaram marcadas por um debate de viés
religioso sobre a legalização do aborto. Qual é sua opinião sobre essa
questão?
Aécio - A religião teve um espaço demasiado na campanha. Isso leva a
radicalizações e impede que as questões centrais que mexem na vida das pessoas
tenham um espaço necessário. Sou a favor da manutenção da atual legislação do
aborto.
ÉPOCA - No começo do ano, o senhor foi flagrado dirigindo com
carteira de habilitação vencida e não fez o teste do bafômetro. O senhor é
favorável ao endurecimento da Lei Seca, em discussão no Congresso?
Aécio -
Sou. Votei na Comissão de Constituição e Justiça pelo endurecimento da lei.
Estamos aplicando-a em Minas, com resultados muito positivos. Esse episódio já
foi explicado. Há sempre a exploração política, mas a gente tem de se preparar
para ver isso com naturalidade.
ÉPOCA - Em resposta à provocação de Ciro
Gomes, o senhor pode dizer que livros o senhor leu recentemente?
Aécio -
Posso dizer o que estou lendo agora: A saga brasileira, que recebi com uma
dedicatória especial de minha ilustre conterrânea Miriam Leitão. Permite a uma
nova geração de brasileiros compreender o que foi o período
inflacionário.
ÉPOCA - Há muita curiosidade em relação a sua vida pessoal.
Como está a vida familiar hoje?
Aécio - Não acho que isso interesse a muita
gente. Minas mostrou de forma clara que as pessoas se importam com as
realizações do homem público - claro que com um comportamento adequado. Levo uma
vida serena, familiar, com minha filha e uma namorada. Sou um homem de bem com a
vida.
ÉPOCA - O senhor pretende se casar de novo?
Aécio - Você está
parecendo minha namorada. Vou falar para ela primeiro (risos).
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